sábado, 6 de agosto de 2011

A FORMAÇÃO POLÍTICA DO LINGUISTA APLICADO

Ao final de eventos sempre fica algo em minha mente. Certamente,guardamos aquilo que tem a ver com você.São coisas que estão de algum forma ligadas a sua experiência. A minha se refere à trajetória como estudante de pós-graduação.A questão em foco é a formação política do estudante, consequentemente, do indivíduo. Durante minha graduação os aspectos políticos do saber e da vida estavam conosco em sala de aula. Na verdade, eram companheiros de todo dia. Sentavam-se ao nosso lado. Sendo eles, aqueles a nosso favor e aqueles contra.

No último evento participado, o CBLA, a política nas práticas dos linguistas aplicados foi tocada. Essa noção foi apresentada por um dos palestrantes da última mesa redonda, no último dia do congresso, que apresentou uma diferença de sentidos entre Política Linguística, Política da Linguística. Por extensão, tomei o assunto, derivando para a formação política dos linguistas aplicados. Por quê? Considerando-se que nós estamos ligados a um dos produtos culturais mais rico, mas ao menos tempo, um dos mais ameaçadores (pela palavra, pela construção do discurso posso condenar alguém), em nosso trabalho - pesquisas em que a linguagem em uso é central no seio da sociedade - há que se tomar um grande cuidado com as conclusões que trazemos à baila.

Nesse sentido, estou falando de ética.Assim, aqui estão dois pontos: a) a marca política de nossas pesquisas; b) a ética exigida, quando falamos não somente com ou sobre, mas sim, pelo outro, acrescento aqui. Na conjunção de pesquisa, ética e política, passamos pela formação do pesquisador em LA. Ver em meus textos o lugar ideológico do qual falei, ao fazer uso dos enunciados teóricos das fontes teóricas e metodológicas, foi uma das minhas maiores dificuldades durante minha formação de pesquisadora.

Portanto, saber ler nas fontes sua posição política, requer do aprendente em ciências conhecimentos que devem ser apropriados a partir de uma leitura crítica. Todavia, tal leitura somente poderá ser crítica que houver por parte do leitor-pesquisador conhecimentos da outras áreas do saber que lhe permitem pensar. Nesse sentido, eu aponto os conhecimentos que a Filosofia nos traz, principalmente aqueles que interligam Filosofia e Ciências, contudo nada será possível compreender se não houver uma articulação com a História (crítica) de nossas sociedades.

Isto posto, vejo que na formação dos LA, estudos sobre Filosofia, em especial sobre a Teoria do Conhecimento (ou Epistemologia) seria de bom tamanho, para a permitir uma compreensão maior e holística da realidade e, assim, desenvolver a formação política do cientista social, que somos nós. Obviamente, não precisamos da escola para desenvolver nosso senso crítico, portanto político, podemos fazê-lo na vida cotidiana, porém, ela é com certeza o melhor lugar, uma vez que um de seus papéis principais é a sistematização do conhecimento para o aprendente.

Cabe ressaltar que política é diferente de partidarismo, mesmo que o segundo englobe o primeiro. O papel político do linguista aplicado é marcadamente mais imediato à ação de fazer pesquisa, pois nosso elemento mais singelo e mais poderoso é a palavra. Muitas vezes, a palavra do outro. Outras, para o outro.

Curiosa, escrevo ao palestrante pedindo fontes bibliográficas para meus estudos, ele me responde dizendo falar de uma posição filosófica de muitos estudos e me sugere o quê? Um filósofo contemporâneo!

No contato cotidiano,pude notar que esta falta de conhecimento filosófico-científico não atingia somente a mim. A partir da palestra em questão, se reafirmou uma velha reivindicação minha: Os estudos sobre filosofia e ciência na formação do linguista aplicado, para sua formação política, ou seja, o senso crítico no fazer ciência em linguagem e sociedade. Caberia a academia - a escola de cientistas - fomentar e providenciar esta formação de maneira mais expressiva, incluindo em seus currículos disciplinas dessas áreas de saber, porque, principalmente, somos transdisciplinares.

O aqui exposto, estendo aos Educadores em Linguagem, uma vez que estudos linguísticos (ensino-aprendizagem, pesquisas etc), indivíduo e sociedade são perpassados pela noção política do autor/professor. Isto exige ética. Para sermos éticos, precisamos de outros conhecimentos para além de nossa área.

O palestrante que não me deixa mentir!


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